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Em finais de 2012, muitos falavam e debatiam a refundação como única solução de saída para o Sporting. Uma solução que implicava altos riscos e ainda maiores custos, mas que permitiria ao Clube voltar aos seus princípios e à sua matriz, limpo das tropelias em que se via metido.
Nunca fui adepto desta opção. Esta opção significava uma morte e o nascimento de outra coisa que com ela partilhava apenas a memória e que, entendia eu, nunca seria um novo Sporting.
Em 2013 o actual presidente do CD vence as eleições, suportado na ideia do Sporting voltar aos sócios, gerando o normal entusiasmo de uma mudança drástica e crescentemente desejada de concepção de funcionamento e rumo.
Chegado a este ponto, observando desde cedo um evidente "processo de lampionização em curso" nas práticas e teorizações, coloca-se-me a hipótese de estar a acontecer efectivamente um processo de refundação do qual a última assembleia era uma etapa, mas que a de amanhã possa ser a sua consubstanciação formal.
Uma refundação dos princípios e valores básicos e fundamentais do Clube. Uma refundação que risca definitivamente o Artigo 1º dos 1ºs estatutos do Clube que afirmavam em português de época que o "Sporting Club de Portugal é o título d'uma associação composta d'individuos d'ambos os sexos de boa sociedade e conducta irreprehensivel."
Uma refundação que recusa todos os valores fundadores do Sporting, baseando-se, com a força de lei que o seu presidente quer obrigar, na chantagem, no populismo, na delação, no insulto, na perseguição, na arruaça, na adulação, na radicalização, na censura.
Uma refundação que desmantela as conquistas de participação democrática activa dos sócios na vida do Clube e que os quer calar na sua liberdade de pensar, criticar e debater preferindo uma grei de seguidores silenciosos e abstinentes no seu exercício critico.
Uma refundação que vê na democracia um desperdício energético, preferindo descaradamente pela autocracia.
Uma refundação que prefere a constante guerra à pacificação, a cisma ao compromisso, o unanimismo à pluralidade.
Uma refundação que pretende transformar a estatutária "unidade indivisível constituída pela totalidade dos seus associados" num Clube permanentemente fracturado, de autos de fé e expurgas avulsas e discricionárias.
Uma refundação que vê o seu pai lidar mal com a critica, menos ou mais, que também a há, caustica e excessiva, assumindo a deriva autoritária, que sempre esteve latente, aprovando a arbitrariedade disciplinar.
Uma refundação que impede formalmente as pessoas de falar. Que retira independência aos órgãos de fiscalização, que tenta impedir a formação de bolsas de pensamento e que aumenta intoleravelmente os poderes presidencialistas.
É um novo clube, de paradigma heliocentrado naquele que se quer proclamar Rei-Sol, onde a criatividade das narrativas se moldam às necessidades estratégicas do mesmo para se manter em poder, onde a propaganda se transforma em informação.
É um novo clube onde a vitimização criada e encenada, ganha, transversalmente, contornos de drama mexicano.
É um novo clube em que se consegue exigir confiança, gratidão e reconhecimento. Confiança, conquista-se. Gratidão, merece-se. Reconhecimento, granjeia-se. Mas nunca, por nunca se exige. Nem sequer se pede. Quando isso acontece, será bom olhar para dentro, desinflar o ego e perceber porque é que a leitura de quem o faz é tão divergente da de quem pretensamente lhe é devedor esses afectos.
Mas é outro clube. Não é o Sporting. A partir de amanhã, aconteça o que acontecer, nada será como antes!