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A Federação Portuguesa de Futebol pretende impor pena de derrota aos clubes da Liga que apresentem mais de cinco atletas que não tenham sido formados localmente na ficha de jogo.
Escreve o Record, relatando o propósito assumido e votado em reunião entre FPF e clubes na qual apenas o Sporting votou contra.
Na realidade a regra de obrigatoriedade já existe.
No regulamento das competições está explicito que:
Os Clubes participantes no presente Campeonato têm obrigatoriamente de inscrever e fazer constar das fichas técnicas dos jogos pelo menos 7 (sete) jogadores formados localmente, independentemente do seu estatuto.
Estando a penalização do incumprimento no artº 103 do regulamento disciplinar da FPF:
O clube que não respeitar as disposições regulamentares relativas à inclusão e utilização de jogadores formados localmente na FPF nos respectivos jogos oficiais, é sancionado com a sanção de multa a fixar entre 5 e 10 UC [o valor do UC em 2016 é de €102], por cada jogador em falta
Ou seja, até este momento, era proibido apresentar mais que 5 jogadores não formados localmente mas era relativamente "barato" não cumprir e contornar a regra. €510 a €1020 por jogador, por jogo. O que muda agora, e que dói mais, é que poderá passar a custar pontos.
Pessoalmente, tal como o Sporting o era há dois anos, sempre fui favorável a esta imposição. Não faz sentido proibir por um lado e exercer um meio de sanção tão ridículo que faça compensar o ilícito. Obviamente que a penalização teria que ser desportiva. Questiono no entanto esta opção feita à medida, neste momento, para penalizar, e isso para mim é claro, o Sporting. Ou seja, a pouco mais de um mês do começo da época, com planeamentos, metas e planteis quase feitos o Clube, tendo assumido o reajuste dos seus objectivos internacionais, vê-se na contingência de ter tudo virado de pés para cabeça.
Também se pode dizer que esta regra, tal como escrita, não protege o futsalista nacional, mas sim o futsalista formado em Portugal. O que em termos de elegibilidade para ser jogador de selecção, está longe de ser a mesma coisa. Ou que se poderia impor a existência de determinado numero de jogadores portugueses e da formação própria nas fichas de jogo. Ou impor a existência de determinado numero de jogadores S20 portugueses nas fichas de jogo. Agora que as alterações nesta altura para uma época que começa daqui a dois meses (um pouco mais este ano por causa da selecção) sem período de re-ajuste, parece-me claramente desenhada à medida para atingir um e beneficiar outro.
Por outro lado, também se poderia questionar a assimetria incoerente de tratamento entre o que acontece no futsal e no futebol, ambas as modalidades tuteladas pela mesma FPF.
Obviamente também, que o Sporting sempre soube que esta opção caminhava no limite do ético e ultrapassava o do lícito. O que em si, já é algo que me custa muito a entender e aceitar. O Sporting que eu defendo, não entra em esquemas de contornar regras para daí retirar benefícios.
O Sporting tinha este ano 14 jogadores seniores no plantel. 8 eram formados localmente, 6 não ( e por isso mesmo já nesta época infringimos a lei várias vezes, nomeadamente para o fim). O Sporting tinha a trabalhar regularmente com o plantel 4 a 5 S20's, com várias chamadas e minutos de jogo.
O Sporting na preparação para 2016/2017, já perdeu 2 formados localmente (Lima e mais que provavelmente Ângelo que até fez a fase final de formação no clube), renovou com os outros e já apresentou 1 não formado localmente (Leo), sendo que são falados 4 ou 5 nomes, em que apenas um é formado localmente. E dos S20 mais próximos de fazer a transição, 2 deles fala-se também que poderão sair (e estamos a falar de jogadores de selecção).
E aqui se centra a linha de (des)equilíbrio que o futsal vive neste momento. Entre a vontade (será mais imposição tendo em conta um momento de Março?) superior de "comprar" vitórias quase à "sheik árabe" e o paradigma de estabilidade, planeamento e formação que norteava a secção. Entre o entrar no jogo dos grandes europeus, que convenhamos, não se faz com o pendor em jogadores nacionais mas sim gastando dinheiro em nomes fortes internacionais e o não perder o seu estatuto de maior contingente a cada convocatória de selecção e não desperdiçar anos de investimento em formação, aproveitando o produto final da mesma para alimentar a equipa de seniores, nomeadamente numa geração claramente capaz e superior a muitas anteriores.