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Os "crimes"

por Trinco, em 17.06.16

William-J.H.-Boetcker.jpg

Toda esta história dos "oitenta milhões" mais as teorias da ironia, da moeda, do bailinho, etc, invariavelmente contrariadas pela realidade trouxeram-me à memória William J. H. Boetcker (1873–1962), lider religioso conservador, americano de origem alemã e tido por alguns como precursor dos "success coaches" actuais, conhecido essencialmente pelo panfleto "The Ten Cannots", mantra de muitos neo-liberais de agora, mas também pela lista dos "Seven National Crimes", possivelmente baseado nos sete pecados mortais e seguramente na realidade americana, que se cometidos levariam ao fim de tudo o que os Estados Unidos significariam.

 

Aplicando os mesmos ao contexto e realidade do Sporting, assusto-me de os ver a serem permanente e despudoradamente cometidos, por mais gente que o que seria razoável aceitar (tendo em conta a realidade nacional em que a sociedade hoje se insere), inclusive por insuspeitos seres pensantes, alguns dos quais, mesmo discordando, lhes reconhecia capacidade intelectual para defenderem coerentemente pontos de vista sem caírem na bardinice que se vai vendo.

 

Estes sete crimes são:

  • I don’t think (Eu não penso)
  • I don’t know (Eu não sei)
  • I don’t care (Eu não me interesso)
  • I am too busy (Estou demasiado ocupado)
  • I leave well enough alone (Deixemos as coisas como estão)
  • I have no time to read and find out (Não tenho tempo para ler ou pesqusar)
  • I am not interested (Não estou interessado)

 

E não há dia em que não veja exemplos destes "crimes" nas discussão sobre o Sporting. Todos os sete. No geral, aceita-se sem questionar a narrativa oficial e os ecos das teorias da da propaganda, acredita-se em vez de se saber, fala-se e escreve-se do que não se sabe, sem qualquer problema ou vontade de saber, replicam-se opiniões por conveniência intelectual e alivio de empenhamento, discute-se o acessório e o mensageiro, despreza-se o essencial e o conteúdo, não se lê nada até ao fim mas tomam a parte pelo todo, não se sabe nada, mas não se inibem de debitar cartilhas, não argumentam limitando-se a repetir opiniões alheias, usam o passado como bandeira para manter o estado das coisas, tudo fica pela rama e no fim, quando postos perante a realidade e os factos, pelos que ainda vão tendo paciência para os aturar, desaparecem, alegam falta de tempo ou afirmam a falta de interesse pois o que gostam é da "bola na rede".

 

Pessoalmente, este nível de relacionamento com o Clube, que apenas posso classificar de doentio e a roçar o cretino, pois o que se ama, cuida-se, e para cuidar é preciso ter interesse genuíno, real e permanente, já não me surpreende nem me causa grande reacção. O Clube já me proporcionou experiencias suficientes para me tornar quase indiferente a isso. O que não me cessa de espantar é a contaminação transversal e generalizada deste "way of being".

 

E perceber que foi exactamente esta linha de acção (ou inacção ao estilo de "laissez-faire, laissez-passer") dos sócios que permitiu o Clube chegar a 2013, vulnerável a este tipo de solução.

 

Fica a esperança na memória de uma citação contemporanea de Boetcker

 

You can fool some of the people all of the time, and all of the people some of the time, but you cannot fool all of the people all of the time.

(Consegues enganar algumas pessoas sempre e todas as pessoas por algum tempo, mas não consegues enganar todas as pessoas sempre)

 

Se bem que sobre isso, há outra lição que também este Clube me proporcionou que é que: "Pior é sempre possível"

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publicado às 12:43


15 comentários

De Trinco a 22.06.2016 às 09:35

Não concordo inteiramente.
Haverá quem, argumentando o diametralmente oposto, acabe por entrar pelo mesmo "carneirismo" acéfalo de repulsa a tudo. Há uns quantos, eu sei. Mas, não tão generalizado como me parece querer dar a entender.
Palmas a mim ninguém me bate, porque não sou nem quero ser protagonista. Há quem concorde, há quem discorde. Apenas e só. Sendo que a opinião de cada um vincula somente essa mesma pessoa. Ou seja, pelo facto de concordarem, não implica concordarem com tudo o que digo. Sendo que o inverso é igualmente verdade.
Da minha parte, recuso entrar pelo caminho fácil da categorização por delito de opinião. Desde que esta opinião o seja verdadeiramente. Aceito perfeitamente quem concorde com medidas e acções desta ou de outra direcção, como eu próprio não tenho problemas em fazê-lo, mas reservo-me o direito de sempre que isso não acontecer, criticar. E quando critico, debato ou argumento nem assumo a postura de quem quer mudar a opinião dos outros. Fico convicto das minhas opiniões, mas não pretendo ser evangelizador jesuíta com uma verdade apenas.
De resto, como também escrevi no texto, o que me parece ser verdade agora, com estes "crimes", já o era entes de 2013, e foi em grande medida contra isso que sempre critiquei. A demissão de pensar, de conhecer, preferindo que os outros, directa ou indirectamente, decidam, sendo apenas caixa de ressonância acrítica do que outros dizem.
Eu sei que "ignorance is a bliss", mas não consigo ter esse lema de vida.

SL

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Sobre o Sporting, com verdade, exigência e espírito critico. Sem reverencias nem paciência para seitas!






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