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Todos temos ou tivemos, num dado momento, pensamentos estranhos e deslocados do nosso centro de racionalidade. Na maior parte das vezes, não nos causam grandes transtornos ou incomodos e facilmente os metemos para traz das costas, algumas vezes até com algum humor irónico ou sarcástico.
Sendo que o pensamento é um processo cognitivo instantâneo, por vezes incontrolável ou involuntário esta dificuldade ou impossibilidade de escolha do que pensamos, acaba por poder ser revelador de outros traços de personalidade ou tendências. Mas mesmo que acontecendo em picos de stress ou ou ansiedade que tendam a desaparecer quando regressamos a um estado normal em que a racionalização permita recolocar essas projecções no nosso universo de valores, esses pensamentos menos filtrados poderão dizer muito do que somos. O estado de humor é, assim, um elemento influenciador dos nossos modos de pensar mais negativos.
Mas quando esses pensamentos, tomam a linha da frente da nossa realidade, quase descontroladamente, de forma intensa e intrusiva, afastando-nos da nossa linha de conduta de forma evidente e quase permanente, obrigando-nos à repetição de de comportamentos e rituais como forma de libertação dos medos, esse estado poderá ser um indicio do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
São as preocupações excessivas com as limpezas, com a arrumação, com a segurança, etc. São estas preocupações que adquirem predominância e comandam a nossa vida, aparecendo de maneira repetida e persistente na nossa consciência, e nos afastam de sermos o que somos e de viver saudavelmente a nossa vida.
No Sporting, ou melhor, neste Sporting, parece estar a formar-se paulatinamente um destes transtornos, partindo do topo e contaminando capilarmente uma parte substancial das consciências. A compulsão obsessiva com uma série de agentes do habitat que, obrigatoriamente, partilhamos e com o mal que nos possam fazer, em teorias mais ou menos conspirativas, mais ou menos mirabolantes, afastando-nos das preocupações directas com o que acontece no Clube e retirando-nos o foco sobre o que é a nossa própria obrigação e competência, desenhando sempre novos álibis para os nossos fracassos. São as obsessões com os agentes dos jogadores, com os fundos, com os árbitros, com os media e mais latente e evidente com o Benfica.
E se na sua génese até acredito que o transtorno seja genuíno em alguns, a verdade é que se assiste a uma instrumentalização do mesmo como ferramenta de governo, desviando atenções e preocupações que levem a revisões criticas da sua acção, centrando em factores externos a atenção. E quando corre mal, a responsabilidade é sempre alheia.
Pessoalmente, acho perniciosa a acção de grande parte dos agentes, nunca concordei com partilhas de passes com fundos especulativos, sou critico em relação ao que se passa na arbitragem, uso sempre da maior das reservas ao ler, ver ou ouvir (o pouco que leio, vejo ou oiço) os media desportivos e quero sempre que o rival perca, reconhecendo alguns factores estranhos que dificultam isso acontecer. Mas não perco o meu tempo e esforço mental com isso. Nem sequer involuntário. E acima de tudo não o uso como desculpa para os nossos fracassos e incompetências.
Enquanto tiver com o que me preocupar em casa, só lhes dou atenção digna de ser assinalada quando jogo contra eles.