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Paul Graham é um ensaísta inglês, além de programador e investidor, responsável embrionário por muito que são as bases da Internet e das tecnologias de informação actuais.
Em 2008, num ensaio intitulado "How to Disagree" propôs uma hierarquia da discordância composta por sete níveis conforme o tipo de argumentos utilizados que podem ser representados na pirâmide acima.
No mesmo ensaio, Graham afirma que subir na escala torna as pessoas menos más e que isso as tornará mais felizes.
E o que tem isto a ver com o Sporting? Tem a ver com a preocupante constatação que a maior parte das discordâncias relacionadas com as opiniões e coisas do Clube, raramente atingem mais que o terceiro nível na resposta. E muitas vezes nem passam do primeiro...
A discordância é boa. É natural. O ser humano vive dela. A evolução, a cultura, a educação, vive dela. Da capacidade de argumentar em nome próprio, da capacidade de pensar coisas diferentes, da capacidade de contrariar as doutrinas vigentes. Como faz parte da habilidade essencial da vida em sociedade o saber acolher e respeitar a opinião alheia. Discordando dela ou não.
Sobre isto, não raras vezes aplico a máxima de Voltaire "Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres". Bem se calhar, "até à morte", não iria tão longe.
A opinião alheia existe e não é por a insultarmos que ela desaparece. Nem sequer perderá o seu valor intrínseco. Em caso de discordância, a contra-argumentação, preferencialmente situada acima do nível 5 inclusive deveria ser a bitola, porque abaixo desse nível todo o rebate é irrelevante, desinteressante e de padrão demasiado baixo.
Como atacar o autor não altera o que está escrito nem a sua pertinencia. Raramente o mensageiro é a mensagem.
Outra das ilações que se pode retirar a partir da interpretação do gráfico são as razões pelas quais na maior parte das discussões de lêem a argumentação não passa do acima referido nível 3.
Pode passar por coisas tão prosaicas como deficiências culturais, pura boçalidade, dificuldades de interpretar o escrito, seja por leitura apressada, seja por incapacidade pura, ou analfabetismo funcional, todas aliadas a uma disfuncional vontade de demonstrar uma voz. Um cocktail que poucas vezes dá bom resultado.
Pode passar por uma cedência à velocidade de relacionamento nestas plataformas, uma espécie de toca-e-foge, em que se lê tudo diagonalmente ou pior que isso de "ouvido", por catalogação do autor ou por reacções anteriores.
Mas poderá por passar por uma defesa quase primária de uma doutrina e de um doutrinador. Seja esta espontânea, seja premeditada e patrocinada. E fazem-no sem perceber que essa defesa, a bem de quem querem defender, precisa ser mais elevada desmontando a perspectiva de quem escreve o texto que se comenta. O que convenhamos pode dar muito trabalho, nomeadamente quando se tratam de factos.
Pessoalmente, muitas vezes leio coisas das quais discordo profundamente, mas não tendo tempo para elaborar prefiro abster-me de qualquer comentário, deixando a teoria demonstrar-se errada a si própria com o tempo. Não tenho errado muitas vezes...